Resenha: Todo dia por David Levithan

 "Todo dia sou uma pessoa diferente. Eu sou eu, sei que sou eu, mas também sou outra pessoa.
  Sempre foi assim." pág.7

Neste novo romance, David Levithan leva a criatividade a outro patamar. Seu protagonista, A, acorda todo dia em um corpo diferente. Não importa o lugar, o gênero ou a personalidade, A precisa se adaptar ao novo corpo, mesmo que só por um dia. Depois de 16 anos vivendo assim, A já aprendeu a seguir as próprias regras: nunca interferir, nem se envolver. Até que uma manhã acorda no corpo de Justin e conhece sua namorada, Rhiannon. A partir desse momento, todas as suas prioridades mudam, e, conforme se envolvem mais, lutando para se reencontrar a cada 24 horas, A e Rhiannon precisam questionar tudo em nome do amor.

Comprei "Todo dia" justamente quando o autor David Levithan começou a se sobressair, devido ao lançamento de seu novo romance - em parceria com John Green - intitulado "Will Grayson". Estava em um momento de leitura clássica na época, então não prestava tanta atenção aos lançamentos. Mesmo assim, o livro me despertou certa curiosidade.

Quando li a sinopse, não achei a premissa tão inovadora - sei que é uma análise muito simplista, mas me lembrou "A mulher do viajante do tempo". Realmente, os dois possuem incontáveis diferenças, mas ainda sim vi a mesma essência.
Quero deixar claro que isso não é uma crítica, apenas um relato.

Contudo, logo que comecei a leitura já gostei muitíssimo. Não imaginei um desenrolar tão bom da ideia inicial, o que me surpreendeu.
Por meio dos diferentes corpos que A acorda todos os dias, o autor consegue mostrar e analisar os mais distintos adolescentes. Garotos populares, meninas arrogantes, jovens em depressão profunda, drogados, deficientes, "normais". Os relatos e conclusões que vão vindo a tona, são realmente muito bons. E, como consequência, o protagonista vai se tornando um ser de muita sensibilidade. Com uma narrativa poética, David Levithan emociona, é honesto, questiona tabus e trás reflexões incríveis por trás de suas palavras.

" Na minha experiência, desejo é desejo, amor é amor. Nunca me apaixonei por um gênero. Apaixonei-me por indivíduos. Sei que é difícil as pessoas fazerem isso, mais não entendo por que é tão complicado, quando é tão óbvio." pág. 123

Como não poderia deixar de ser, já que toda boa história tem um, o livro possui um excelente romance. Logo no início da trama, A acorda no corpo de Justin e se apaixona - pela primeira vez - pela namorada do garoto. Assim, ao longo da narrativa, A irá sentir realmente o problema de não possuir um corpo e de ter que explicar um história tão maluca quanto a sua. Vários questionamentos envolvendo a essência vão surgir a partir disso.

" Que história é essa sobre o instante em que você se apaixona? Como uma medida tão pequena de tempo pode conter algo tão grande? ... porque não há meio de fazer com que os anos que passei na Terra sejam capazes de resumir o que estou sentindo. O momento em que você se apaixona parece carregar séculos, gerações atrás de si - tudo isso se reorganizando para que essa intersecção precisa e incomum possa acontecer... você sente que tudo levou a isso, que todas as fechas secretas estavam apontando para este lugar, que o universo e o próprio tempo construíram isso muito tempo atrás, e agora você acaba de perceber que chegou ao local onde sempre deveria ter estado."pág. 25

Um ótimo livro. Leia.

O final deixou uma boa abertura para o próximo volume, que espero que chegue logo. Já tenho altas expectativas para qualquer outro livro que David Levithan lance. Que venham os próximos!

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