Resenha: Paris é uma festa por Ernest Hemingway.

" Paris não tem fim, e as recordações das pessoas que lá tenham vivido são próprias, distintas umas das outras. Mais cedo ou mais tarde, não importa quem sejamos, não importa como o façamos, não importa que mudanças se tenham operado em nós ou na cidade, a ela acabamos regressando. Paris vale sempre a pena e retribui tudo aquilo que você lhe dê. Mas, nesse livro, eu quis retratar a Paris dos meus primeiros tempos, quando éramos muito pobres e muito felizes" pág.173 *

 Esta obra procura revelar um Hemingway diferente. Em Paris, aos 22 anos, ele lê, pela primeira vez, clássicos como Tolstói, Dostoievski e Stendhal. Convive com Gertrude Stein, James Joyce, Ezra Pound, F. Scott Fitzgerald, figuras polêmicas e encantadoras para o jovem Hemingway. A cidade e esses 'companheiros de viagem' deram-lhe nova dimensão do humano e maior sensibilidade para alcançar os seus dois objetivos primordiais na vida - ser um bom escritor e viver em absoluta fidelidade consigo próprio. 

Paris é uma festa é um livro onde Ernest Hemingway descreve seus primeiros anos em Paris, quando ainda não era um escritor muito aclamado, era pobre e casado com Hadly - sua primeira esposa, conhecida como "a esposa de Paris".


Além de ser um livro um tanto quanto auto biográfico, também é uma declaração de amor a Paris. Paris dos Loucos Anos 20, cheia de intelectuais, pintores, escritores... Pessoas criando obras de artes dentro de suas especialidades.

Hemingway vai nos apresentando a vários cafés, bares, livrarias, museos, pintores, escritores dessa cidade e época. E ao longo dessas descrições vai contando a história dos anos, que segundo ele, foram a época onde ele foi mais feliz em toda sua vida.

" - Não discuta comigo, Hemingway - disse Miss Stein - Não adianta nada. Vocês todos são uma geração perdida..." pág. 42 *

"... concluí que todas as gerações eram perdidas por alguma coisa, sempre tinham sido e sempre haveriam de ser." pág.42 *

Acredito que seja difícil não gostar da Paris dos Anos 20, após conhecê-la. É um lugar mágico. Uma época que influênciou - e mudou - muito a literatura e a arte.
Hemingway conviveu com várias pessoas que se tornaram muito aclamadas - Scott Fitzgerald, James Joyce, Gertrude Stein, Ezra Pound são alguns exemplos -, verdadeiros gênios dentro de seus ofícios artísticos. Nesse livro vemos várias conversas desses artistas com Hemingway, sabemos o que ele pensava de cada um, aprendemos um pouco mais sobre eles e ficamos sedentos por mais informação.

" Quem escreve um livro tão bom como O grande Gatsby seria capaz de escrever outros, melhores até. Como eu não conhecera Zelda ainda, não podia imaginar com que dificuldades terríveis teria que lutar. Mas em breve teríamos contato com elas." pág.147 *

 Paris é uma festa me fez querer saber mais coisas de Hemingway e ler mais obras dele. Assim como me fez ficar curiosíssima sobre a história de Scott Fitzgerald.

Encontrei o que mais queria com esse livro: conhecer - e também entender - um pouco mais de Ernest Hemingway e sua mente brilhante. O fato do livro nos deixar dentro da cabeça do autor o tempo todo faz com que você o conheça melhor, suas ideias e opiniões.

A narrativa é muito boa, prende bastante. Um livro facilmente rápido de se ler, apesar de ser descritivo o autor consegue fazer isso de um modo extremamente prazeroso de se ler.
Não é aquele clássico cheio de palavras que você nunca viu na vida, com uma narrativa que parece não fluir, onde você desanima nas primeiras páginas. Não tem nenhuma "característica" dessas que você pode não gostar em alguns clássicos.

" Já sabia, então, que qualquer coisa - boa ou má - deixa um vazio quando acaba. Se é má, o vazio se enche de si mesmo. Se é boa, só se poderá enchê-lo encontrando alguma coisa melhor." pág. 63 *

Esse livro é uma coisa assim, das boas - das muito boas. Tentarei preencher o vazio com outros livros do autor, veremos futuramente o resultado disso. Agora, uma passagem para a França na década de 20 também não seria uma má ideia.

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" Se você teve a sorte de viver em Paris, quando jovem, sua presença continuará a acompanhá-lo pelo resto da vida, onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa móvel."

 - De Ernest Hemingway a um amigo, 1950.

" Depois de escrever um conto sentia-me sempre vazio e simultaneamente triste e feliz, como se tivesse acabado de me entregar ao amor físico..."

" Levantava-me, punha-me a contemplar os telhados de Paris e pensava: " Não se aborreça. Você sempre escreveu antes e há de escrever agora. Tudo o que tem a fazer é escrever uma frase verdadeira. Escreva a frase mais verdadeira que você souber." " pág. 29*

" A única coisa capaz de nos estragar um dia eram pessoas, mas se se pudesse evitar encontros, os dias não tinham limites. As pessoas eram sempre limitadoras da felicidade, exceto aquelas poucas que eram tão boas quando a própria primavera." pág. 53 *

" Quando uma antiga amizade não se refaz por completo, é na cabeça que a gente sente mais . Mas de que servem essas palavras? A coisa era muito mais complicada do que isso, e jamais conseguirei explicá-la direito." pág. 103 *

" - O escritor completamente desambicioso e o bom poeta inédito, eis duas coisas que muita falta nos fazem hoje em dia. Mas o problema de subsistência é uma realidade desgraçada..." pág. 121 *

" Se duas pessoas que se amam fossem tão sólidas como um farol, nada sofreriam, pois a perda seria das aves. " pág. 170 *

" A inocência é a mãe dos piores pecados." pág. 172

Atençao! Oc * ao lado dos quotes - trechos - do livro estão devido ao fato da minha edição ser uma bem antiga, da época do Círculo do livro. Por isso, não sei se esses trechos estão nas mesmas páginas, nas novas edições - a probabilidade é que não estejam.