Quote da Semana

"Se você vai tentar, vá até o fim.
Caso contrário, nem comece."

- Charles Bukowski.

Resenha: O jogo do anjo por Carlos Ruiz Zafón.

Leia outras resenhas do mesmo autor: A sombra do vento, O prisioneiro do céu e Marina.
 " Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma história. Nunca esquece a primeira vez que sente o doce veneno da vaidade no sangue e começa a acreditar que, se conseguir disfarçar sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de garantir um teto sobre sua cabeça, um prato quente no final do dia e aquilo que mais deseja: seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente vai viver mais do que ele. Um escritor está condenado a recordar esse momento porque, a partir daí, ele está perdido e sua alma já tem um preço. " pág. 9
Em 'O jogo do anjo', o catalão Carlos Ruiz Zafón explora ângulos da cidade onde ambientou 'A sombra do vento'. Enquanto guia seus leitores por cenários familiares, como a pequena livraria Sempere e Filhos e o mágico Cemitério dos Livros, Zafón constrói uma história que mistura o amor pelos livros, a paixão e a amizade. Na Barcelona dos anos 20, David Martín é um jovem escritor fracassado, obcecado por um amor impossível e abatido por uma doença fatal. Até que vê sua sorte mudar ao receber uma oferta irrecusável.

O jogo do Anjo foi o segundo livro escrito por Zafón para a série "O cemitério dos livros esquecidos".  Em ordem, os lançamentos são: A sombra do vento, O jogo do Anjo e O prisioneiro do céu. Você não precisa ler necessariamente nessa ordem. Os livros tem história independentes - não é necessário conhecer o volume anterior para entender a história do volume que se está lendo -, no entanto, existem ligações. Isso tudo é um jogo genial do autor. Três livros de uma mesma série, que lidos em qualquer ordem contarão a mesma história - e tudo isso sem deixar o leitor boiando. Eu mesma, não fiz as leituras na "ordem correta". Não ouve nenhum problema.

Como se trata de uma série, você verá cenários - como; a Livraria Sempere e Filhos, O cemitério dos livros esquecidos e outros lugares dessa Barcelona criada pelo autor - e alguma algumas coisas - a paixão e devoção pelos livros, os cenários com toques góticos e sinistros, uma leve pitada de sobrenatural, romance - em comum com os outros livros.

A história gira em torno de David Martín. Quando criança, vivia com seu pai, um álcoolatra de poucas palavras. Ele achava que Martín tinha que aprender a trabalhar. Na maior parte das vezes, era bem calmo. Só se exaltava - ficava como um louco - quando via o menino com algum livro. Por isso, a Livraria Sempere era um lugar de segurança e refúgio para Martín.

Quando seu pai morre, Martín vai trabalhar no jornal de Pedro Vidal - que agora é seu amigo e protetor. Lá, descobrem seu talento com a escrita, e se aproveitam disso. Martín começa a escrever uma coluna para o jornal, e dessa coluna nascem livros. Livros sob o pseudônimo de Ignatius B. Samson. Os livros seguem aquilo que quem paga Martín quer. Não são os livros que ele queria escrever.

Martín é um homem frustrado. Vive em um casarão antigo e sombrio, é apaixonado por uma mulher que não o ama. Ele resolve parar de escrever esses livros "bobos" e se dedicar aquilo que sempre quis fazer. É nesse ponto que é diagnosticado com uma doença fatal, que lhe dá somente alguns meses de vida.

Ele está morrendo. Desesperado, por não ter escrito nada que o imortalizasse, ele precisa de tempo. A única coisa que não lhe resta.

" - Ainda não posso morrer, doutor. Ainda não. Tenho coisas a fazer, Depois terei a vida inteira para morrer." pág.111


É nesse ponto da história que conhecemos Andreas Corelli - um cara misterioso, a beira do macabro. Ele quer que Martín escreva um livro, um livro que tem o potencial para mudar o mundo - um potencial bem perigoso. Oferece uma fortuna para que Martín escreva. No entanto, nosso personagens está morrendo. Não tem tempo.
Bem,para Andreas Corelli, nada parece impossível.

Martín vai descobrir muitas coisas do passado que estão ligadas a ele de uma forma assustadora. A casa onde vive, os antigos moradores. Eles tem uma história, semelhante a de Martín. Ele só espera que o desfecho da sua não seja tão semelhante ao deles.

O jogo do Anjo tem um cenário bem mais gótico e macabro que os outros livros dessa série. A vida de Martín é um amontoado de desgraças - se me permitem o palavreado, não achei outra palavra que fosse mais adequada -, não  desanime com essa informação, desgraças ficam extremamente poéticas quando escritas por Zafón.

Alguns acontecimentos são um pouco - estou sofrendo com ausência de bons sinônimos, me desculpem - loucos. Pelo que andei lendo em algumas resenhas, esse foi um dos motivos de algumas pessoas não terem gostado tanto assim do livro. Não, eu também não acho que esse seja o melhor livro escrito por Zafón - dos que li, não é o melhor - mas não é um livro ruim, nem de longe.

As partes descontraídas, a leveza do livro, ficam por conta de Isabella - uma garota de dezessete - ou seria dezesseis? - anos que deseja se tornar escritora. Isabella acaba, mesmo a contragosto de Martín, se tornando sua assistente para que possa "aprender" o oficio. Os diálogos sarcástico e com humor são, na sua grande maioria, conversas entre Martín e Isabella.

Gostei muito de Isabella, só desgostei do final que Zafón escolheu para ela.

Sou um pouco suspeita para falar no geral. Antes mesmo de ler já gostava da ideia do livro. Um escritor brilhante, com um amor não correspondido, uma vida miserável - e de certo modo amaldiçoada -, que tem o poder de escrever algo que pode mudar o mundo, vive em um castelo sinistro e tudo isso em uma atmosfera gótica com toques de horror e sobrenatural. Isso já era bem atrativo para mim.

Tudo isso com a escrita brilhante de Zafón - que você já deve estar cansado de me ouvir ouvir falar.

Algumas coisas não foram respondidas. Ficaram pontas soltas diferentes das que normalmente vemos em um livro do autor. Mas, é uma série. Podemos ter respostas futuramente. No entanto, admito que tem falhas - e o fato de que não é melhor que os outros livros do autor -, mas gostei da história de David Martín. Me apeguei a ele.

É Zafón, só a escrita já valeria o livro.

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Quotes! - Eu sei, são muitos. Você já sabe, é Zafón.

" Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma história. Nunca esquece a primeira vez que sente o doce veneno da vaidade no sangue e começa a acreditar que, se conseguir disfarçar sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de garantir um teto sobre sua cabeça, um prato quente no final do dia e aquilo que mais deseja: seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente vai viver mais do que ele. Um escritor está condenado a recordar esse momento porque, a partir daí, ele está perdido e sua alma já tem um preço. " pág. 9

" - A inveja é a religião dos medíocres. Ela os reconforta, responda às angustias que os devoram por dentro. Em última análise, apodrece suas almas, permitindo que justifiquem sua própria mesquinhez e cobiça, até o ponto de pensarem que são virtudes..." pág. 21

" - Morreu de orgulho na mais absoluta asfixia. Aí está, um epitáfio grátis." pág.26

"... nessa droga de mundo, onde tudo apodrece, a começar pela beleza e a terminar pela memória." pág.30

" - Tudo nessa vida é bobagem. Trata-se simplesmente de uma questão de perspectiva." pág. 63

" Se fosse possível deixar para trás a pele e a memória, eu o teria feito." pág.75

" Não confio nas pessoas que acham que têm muitos amigos. É sinal de que não conhecem os outros." pág.106

" - Não está com uma cara boa - sentenciou.
  - Indigestão - repliquei.
  - De quê?
  - De realidade.
  - Melhor entrar na fila - atalhou. " pág. 151

" - Em geral, quanto mais talento tem, mas a pessoa duvida que o tenha realmente - disse eu. - E o inverso também.
   - Então devo ser um prodígio - replicou Isabella.
   - Bem-vinda ao clube." pág.207

" A poesia se escreve com lágrimas, o romance com sangue e a história com águas passadas." pág.233

" - Um modo cruel seria mais aceitável? A justiça é uma questão de perspectiva, não um valor universal." pág. 235

" O silêncio faz com que até os idiotas pareçam sábios por um minuto." pág. 235

" - Nunca fui uma pessoa religiosa. Mas do que acreditar ou não acreditar, tenho dúvidas. A dúvida é minha fé." pág. 236

" - O ser humano acredita como respira, para sobreviver." pág.237

 " A letra da canção é o que pensamos entender, mas o que faz com que acreditemos, ou não, é a melodia." pág. 241

" - Sabe o que é bom nos corações partidos? - perguntou a bibliotecária.
  Neguei.
  - É que só podem se partir de verdade uma vez. O resto são apenas arranhões." pág.262

" - Por que será que quanto mais se tem a dizer, mais pomposa e pedante é a forma que se escolhe? - perguntou Corelli. - Será para enganar o mundo ou para enganar-se a si mesmo?" pág.266

" O tempo cura tudo, pensei, menos a verdade." pág.352

" - Só vale a pena ficar na cama quando se é jovem e se está em boa companhia." pág. 379

" É curioso como é fácil contar, sozinha diante de um pedaço de papel, aquilo que não me atreveria a dizer-lhe frente a frente." pág.406

" As pessoas normais trazem filhos ao mundo; os romancistas trazemos livros. Estamos condenados a deixar a vida neles, embora quase nunca nos agradeçam por isso. Estamos condenados a morrer em suas páginas e, às vezes, a permitir que elas acabem nos tirando a vida." pág.431

" - O plágio não tira o pensamento da categoria das bobagens." pág.437

" Escreveria a história daquela lembrança que nunca houve, a memória de uma vida roubada." pág.498

" - Você é o narrador. Só peço que me diga a verdade.
  - Não sei qual é a verdade.
  - A verdade é a que dói." pág.546
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4 comentários

  1. Oie =)
    Eu li esse livro e gostei muito, aliás sou apaixonada pela escrita do Zafón!
    Porém o livro que mais gostei dele foi " A Sombra do Vento" que livro bem escrito!!
    Beliscões carinhosos da Máh-
    Felicidades nos Livros
    @Maaria_Silvana

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  2. Eu li O prisioneiro do céu e adorei, antes disso já tinha lido Marina que também é muito bom. Agora quero ler os dois outros livros da trilogia e esse é um deles. A escrita do Zafón é realmente magnífica, dá vontade de não parar de ler nunca.

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  3. Estou doida para ler os livros desse autor, li as resenhas em vários lugares e amei!

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  4. Eu conheci a maravilhosa escrita de Zafón esse ano através de A Sombra do Vento. Logo na primeira página me encantei *-* , e sabia que seria um dos meus livros favoritos.
    Já li O prisioneiro do céu, e isso aumentou mais a minha curiosidade com relação ao Jogo do anjo.
    Pretendo ler ainda esse ano. Adorei a resenha e os quotes, realmente quando se trata de Zafón é impossível não citar muitos.

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