Quote da Semana

"Se você vai tentar, vá até o fim.
Caso contrário, nem comece."

- Charles Bukowski.

Resenha: Diga aos lobos que estou em casa por Carol Rifka Brunt.

Se pedissem para que eu descrevesse Diga aos lobos que estou em casa, em uma única palavra, essa, com certeza, seria sensibilidade.

1987. Só existe uma pessoa no mundo inteiro que compreende June Elbus, de 14 anos. Essa pessoa é o seu tio, o renomado pintor Finn Weiss. Tímida na escola, vivendo uma relação distante com a irmã mais velha, June só se sente “;ela mesma”; na companhia de Finn; ele é seu padrinho, seu confidente e seu melhor amigo. Quando o tio morre precocemente de uma doença sobre a qual a mãe de June prefere não falar, o mundo da garota desaba. Porém, a morte de Finn traz uma surpresa para a vida de June – alguém que a ajudará a curar a sua dor e a reavaliar o que ela pensa saber sobre Finn, sobre sua família e sobre si mesma. No funeral, June observa um homem desconhecido que não tem coragem de se juntar aos familiares de Finn. Dias depois, ela recebe um pacote pelo correio. Dentro dele há um lindo bule que pertenceu a seu tio e um bilhete de Toby, o homem que apareceu no funeral, pedindo uma oportunidade para encontrá-la. À medida que os dois se aproximam, June descobre que não é a única que tem saudades de Finn.

Esse foi o livro que mais me chamou atenção nos lançamentos da editora Novo Conceito do mês passado. O título, por si só, já foi apaixonante.
O li a um mês. Foi um YA tão diferente, e tão bom, que demorei para querer escrever sobre ele.

June é uma menina de 14 anos que ama a época medieval - aliás, ela queria ter nascido nela. Sempre que pode, ela vai para a floresta atrás da escola - onde não há muitos vestígios de civilização. Lá ela veste suas botas medievais - que foram um presente de seu amado tio Finn, quando eles estiveram juntos em uma feira medieval -, coloca um vestido e, sozinha, quase consegue acreditar que realmente está em outra época.

June, sua mãe e sua irmã mais velha - Greta - passam os domingos no apartamento de Finn. Ele é um personagem incrível - aliás, três personagens dessa trama podem ser facilmente classificados como incríveis. Um pintor talentosíssimo, com um excelente bom gosto e muito culto. Além disso, é um excelente amigo para June. Finn é a pessoa que ela mais ama nesse mundo, e isso fica claro logo nas primeiras linhas.

A relação de June e Greta é complicada. Greta sempre está arrumando um modo de deixar sua irmã chateada. Ela percebe que os sentimentos que June tem por Finn são confusos, e abusa disso. Fica visível que a mãe das duas gosta muito do irmão, mais é notável que ela não aprova as preferências e escolhas dele.

A narrativa começa com  a morte de Finn. A dor e a dificuldade que June tem para lidar com o luto são gigantescas. O preconceito com relação AIDS - doença que matou Finn - algo comum nos anos 80, também está presente na narrativa.

Calma! Dizer que ele morreu de AIDS não é um spoiler. Está nas primeiras linhas do romance.

Toda a questão histórica, da AIDS, tratada no livro é muito interessante. O preconceito era monstruoso, não existia tratamento e não se sabia muito sobre a doença.

As dúvidas que June possui em relação aos seus sentimentos para com o tio, também são bem interessantes. Ao notar isso no início, achei que isso poderia ficar estranho no livro. Mas, foi justamente o contrário. A autora soube trabalhar com maestria essa - e várias outras - questões tão delicadas da história.

Logo depois da morte do tio, June irá conhecer Toby - que é totalmente odiado pela família dela. Através de Toby ela irá descobrir muitas coisas sobre o tio, e ganhar um bom amigo.

Diga aos lobos que estou em casa é uma história sobre: perda, amor, confusão, AIDS, amizade, erros. Mas, acima de tudo, sobre sensibilidade. Após concluir a leitura, e voltar a realidade, me senti em um mundo extremamente carente de sensibilidade.
Carol Rifka consegue abordar muitos temas polêmicos, seguindo essa linha de narrativa. A qualidade de seu texto me surpreendeu muito.

O livro foi ganhador do Prêmio Alex, da Young Adult Library Services Association (melhor livro do ano). É uma história incrível e, sem dúvidas, mereceu.

Se você está atrás de um YA diferente dentro de tantos clichês que vemos - e lemos - no gênero atualmente, esse é o livro. Pode confiar.

Esse livro foi uma cortesia da editora Novo Conceito.


" - Acredite no que quiser - disse, virando- se e indo para a escada.
  Aquilo era impossível, e Greta sabia. Você podia tentar acreditar no que quisesse, mas nunca funcionava. Seu cérebro e seu coração decidiam no que você ia acreditar e pronto. Gostasse você ou não." pág.11

" (...)
 - De qualquer forma, então, qual é o seu? Qual é o superpoder de June Elbus?
  (...)
- Coração. Coração duro. - falei, sem saber ao certo de onde aquilo viera - O coração mais duro do mundo.
  - Hummm - Toby disse, batendo um dedo no ar. - Esse é útil, sabe? Muito vantajoso. A questão é...
 (...)
  - Qual é a questão?
  - A questão é: pedra ou gelo? Quebrar ou derreter?" pág. 235

" Há botões pretos escuros tatuados no meu coração. Vou carregá-los pelo resto dos meus dias." pág. 450
 

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